Discurso do Galvão Bueno - Cerimônia de Encerramento das Olímpiadas Rio 2016

"Eu gostaria de começar dizendo uma frase que nós usamos  durante todos os Jogos: nós somos todos olímpicos. E vamos continuar a ser. Nesse estado cheio de simbolismos, a olimpíada do Rio começou há 17 dias. Uma pira olímpica democrática, que espalhou o seu fogo pela cidade. A cidade redescoberta pelos seus próprios moradores ou pelos milhares de turistas pelo mundo inteiro que passaram por ela. O Rio foi a casa de 206 nacionalidades, foi um anfitrião de uma festa que procurou celebrar a diversidade como o nosso bem maior. Nas arenas esportivas, vimos heróis de carne e osso nesses 17 dias. Vimos os grandes campeões e os mitos, como o nadador Michael Phelps, ou como a ginasta Simone Biles, ou o corredor Usain Bolt. Mas nós vimos também os olhos emocionantes de Rafaela Silva,a felicidade contagiante de Martine e de Kahena, que aí estão. Nós vimos Bruno e Alison, misturados às suas famílias, na chuva de Copacabana. Nós vimos Robson Conceição trazer a força da sua luta diária para dentro de um ringue de boxe. E o que dizer então, do salto improvável de Thiago Braz, com direito à recorde olímpico? E o futebol e a sua medalha inédita de ouro? um êxtase no Maracanã! O vôlei e a manutenção da supremacia de uma década inteira e um delírio no Maracanãzinho. Mas o que vimos foi muito além da medalha dourada, foram as conquistas prateadas de Arthur Zanetti e também de Diego Hypólito...

Foram centenas de histórias de pessoas transformadas pelo esporte. Histórias como as de Isaquias Queiroz, o menino que usou uma canoa para virar página do almanaque olímpico ou o abraço do super campeão José Roberto Guimarães no netinho inconsolável, depois da derrota do avô. Nós vimos que a ginasta Flávia Saraiva não perdeu a medalha, ela ganhou o quinto lugar. E será que vimos a derrota da porta-bandeira Yane Marques? Derrota, se ela mesmo disse que não, que agora deixou ser legado para as novas gerações?

Quantas lições de que o importante é mesmo competir. Lições que podem e devem ir muito além do esporte. Aprendemos com gestos e personagem que o Brasil é um país em eterna descoberta de seus valores étnicos e humanos. Esse é o grande legado de uma olimpíada em casa. Um esporte é uma ferramenta que permite igualar Phelps, nascido na maior potência econômica do mundo, e Bolt, filho uma ilha pobre do Caribe. é a ferramenta que faz Rafaela Silva, nascida na pobreza da Cidade de Deus e o super campeão Bernardinho, filho da classe média carioca, dividiram o mesmo sonho e chegarem ao mesmo lugar. Que a olimpíada na nossa casa seja um marco de transformação, um divisor de águas para a sociedade brasileira. Afinal, somos sim, todos olímpicos, e uma sociedade movida pelos ideais olímpicos tem o poder de se transformar continuamente. Ideais como solidariedade, superação, o respeito à diferença e a celebração da humanidade.

Que esta olimpíada não seja o fim de um sonho, mas o início de um tempo em que sempre vale a pena sonhar.

A olimpíada se despede do Brasil e nós já estamos com saudades. Com saudades da emoção, do arrepio na pele e daquilo que o esporte nos ensina: Para cada queda, um recomeço. Na maior cobertura da história da Globo, nossa equipe viveu com você mais de 200 horas de transmissões. E foi inesquecível. Em 2020, em Tóquio, tem mais. SOMOS TODOS OLÍMPICOS!"

(BUENO, Galvão)

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